quinta-feira, março 29, 2012

Dançar!

Há dias em que simplesmente me apetece vestir uma roupa larga, encostar a porta do quarto, meter uma luz média e a música aos berros, para passar horas e horas a dançar. E não há nada melhor que descalçar as sapatilhas e sentir o frio do chão a aquecer-nos os pés enquanto nos movemos de um lado para o outro... e de repente, o simples espaço limitado pelo quarto ou pela sala, transformam-se  no nosso estúdio de dança! As paredes passam a ter espelhos em todos os cantos e os objectos passam a ser pessoas de olhos atentos ao nosso estado de espírito que vai mudando ao ritmo da própria música que nos absorve e consome e nos liberta daquilo que somos todos os dias aos olhos dos outro.

Todos os passos se tornam deliberados e premeditados, soltos e irreflexivos, livres como se em vez de termos braços tivéssemos asas e em vez de termos o chão aos nossos pés tivéssemos água que nos permitia flutuar sobre ela. A música acaba por nos fazer sentir tudo ao mesmo tempo e, das formas mais inesperadas, cada ritmo e cada batida dão-nos uma completa alteração de estados e emoções: tão depressa nos tornamos num ser sedutor que se movimenta de forma quase perigosa e consome o outro ser imaginário com o olhar e com os passos mais inesperados e repentinos, que o nosso corpo vai seguindo com vontade de se soltar cada vez mais, ou tão depressa estamos num estado de agressividade e raiva que nos leva a querer bater no chão, correr de tudo e de todos, tudo isto criado por um ritmo frenético até chegarmos à calma de um ritmo sensível e encantado, que nos torna numa pequena boneca de porcelana que se movimenta com gestos delicados e passos calculados até chegar aos braços de alguém que imaginamos ter do nosso lado. O chão torna-se o nosso céu e as luzes parecem apagar-se, como se apenas nós fosse-mos o centro de um palco...

Apenas acordamos ao fim daquilo que nos pareceram horas, que na verdade não passaram de alguns minutos, olhamos em volta e tudo desvanece... e quando a música acaba, as luzes lentamente aparecem e a sala ou o quarto fazem parte do nosso espaço físico, apenas sentimos o ritmo e o bater do nosso coração, acompanhado com o ar ofegante da nossa respiração e a única parte do nosso corpo que ainda parece dançar é o nosso peito que vai para dentro e para fora ao respirar. Por momentos conseguimos ser livres e sermos transportados para um mundo só nosso e, quase milagrosamente, parece que dentro de nós nasceu uma nova forma de ver a vida que nos rodeia... talvez por isso, tenha cada vez mais vontade de ter um tempo para dançar e talvez, um dia, alguém esteja lá para ver e o dia termine comigo a dançar ao sabor do vento!

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