quarta-feira, outubro 24, 2012

*Transmontanismo* - Parte 1

Não haja dúvida que, o que mais nos chama a atenção quando estamos fora de casa, ou neste caso, da nossa terra ou país, são as diferenças linguísticas. Quer seja da própria língua materna ou de regionalismo, o nosso ouvido torna-se num órgão muito mais desenvolvido para a captação de "coisas estranhas" e diferentes que nos chegam por esse canal. Mas mais difícil ainda é ficar longe da vontade de querer partilhar esse conhecimento e, até, fazer parte integrante dele. Já muita gente me diz, pelo telefone, que tenho "um sotaque diferente"... fica difícil com o convívio não apanhar "tiques linguísticos" desta região nortenha. Dá um certo orgulho sentir que fazemos já parte de uma outra cultura, embora pense que não seja muito agradável a mistura entre o lisboeta e o transmontano - e nada de confundir o sotaque transmontano com o sotaque nortenho, para não ofendermos ninguém!

O que acaba por enervar é aquela vontade de querer andar sempre com um caderninho para escrever aquelas palavras que ouvimos e queremos memorizar - ou anotar- para não nos esquecermos da nova palavra que aprendemos... mas não podemos, porque simplesmente temos mais que fazer do que andar com um bloco de notas e quando andamos não o queremos mostrar para não parecermos alguém do outro mundo que anda a anotar o que  os outros falam. Agora até me deu curiosidade de saber a reacção que as pessoas teriam, mas vamos prosseguir. A verdade é só uma, as expressões linguísticas são tantas, os nomes das coisas são tão variados, que adquirimos  uma maior riqueza vocabular numa questão de minutos. E claro, é esse vocabulário que nos torna parte integrante do local onde estamos, como uma grande família.

Nalgumas situações fica difícil contar o riso por realmente não estarmos a perceber nada do que nos estão a dizer mas ser tão engraçado o que ouvimos.  Sem falarmos nas constantes trocas dos Bs com os Vs... e o tipico som TCH no início ou no meio de algumas palavras. Mas o melhor de tudo é ouvir as formas de tratamento na terceira pessoa do plurar e ouvir, constantemente o "vê-de bem", "ide lá", "vinde cá", "andai", "dê-me cá"... e por aí em diante!  

Aqui ficam algumas das expressões ou palavras que mais tenho captado (uma vez que não tenho possibilidade de andar com um caderno de apontamentos para poder ter mais para partilhar):

Mô filho: forma carinhosa e encurtada de dizer "meu filho", quer seja no masculino ou no feminino.

Diabos: uma vez que aqui muita gente tem muito tempo para pensar em doenças, anda tudo muito preocupado com os seus diabetes e colesterol (castrol).

Não digas que vais daqui: basicamente quer dizer, "e já vais com sorte", por isso, nada de queixinhas.

Biqueiro/a: pessoa que come mal, que tem má boca.

Cajata: o mesmo que bengala.


-» Cibo (de pão): não é nada mais do que um bocado de pão, o que também pode ser um carolo. E se por acaso pedirem a carocha do pão, estão a pedir o "cu" do pão.

Cancelo: porta 

Starelho ou Estarelho: o mesmo que um alguidar, mas baixo e comprido, para recolher a roupa do estendal.

Rodilhos: panos da cozinha.

Catota: porcaria que se prende ao pelo dos animais, mas que se pode usar para designar uma pessoa porca  (catoteiro/a)

Larego: pequeno porco bebé, também podendo o nome ser atribuído a uma pessoa porca (larega), ou como um termo carinhoso de tratar alguém (lareguinho/a).

Parreco: Pato pequeno.

Trocho: Caule das couves ou um pedaço tosco de pau.

 Emboligar: sujar-se ou revolver-se no pó.

Cacharro: o mesmo que panela.

Malga: pequena taça para comer a sopa ou beber o leite.

Tantinho/ Tantico: um pouco de alguma coisa.

Zamboneiro: alguém que diz mentiras, mas com intuito de se meter com as pessoas.

Lambefe: bofetada, chapada ou tabefe.

Galifaz / galifante: rapaz novo que já começa a ter barba.

A formiga já tem catarro: jovem que já tem vaidade.

Ter Proa: o mesmo que ter vaidade.

Certamente que haverá muitas mais expressões para "explorar", mas espero voltar a escrever sobre este tema e encontrar mais coisas novas para partilhar!

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