De dia para dia dou por mim com mais saudades de não ter acesso ilimitado à Internet, quando apenas me bastavam 10 minutos para abrir o mail, ver, ler, responder aos mais importantes e apagar as publicidades desnecessária. Abrir o facebook, ver por alto o que o pessoal andava a fazer, deixar mensagens de saudades aos amigos mais próximos e responder a mensagens que os mesmos me tinham enviado. Ainda assim me sobrava sempre um tempinho para ir ler um artigo sobre um filme que ia estrear no cinema ou para sacar uma músiquinha que naquele dia tinha ouvido na rádio e tinha gostado. Findo esses dez minutos, sobrava o telemóvel para telefonar para a família e voltar a escrever cartas para os amigos mais afastados, nomeadamente para França e para a Suiça. A ansiedade de voltar a receber uma carta ou um simples postal, com uma pequena mensagem mas que me levava a abrir um largo sorriso. Era como voltar atrás no tempo, quando costumava enviar cartas para os primos e amigos que estavam longe e que apenas podíamos ver uma vez no ano.
Agora, com esta treta de ter Internet acessível 24 horas por dia, fica impossível ficar longe desta máquina manipuladora e deste mundo cibernético. Não chega entrar uma vez por dia no facebook e deixar uma simples mensagem, porque o tempo de tédio aumenta e os joguinhos estão ali à mão. E esses minutos transformam-se em horas e o chat torna-se a forma mais rasca de conversar com alguém todos os dias! Nada como sair para um café com os amigos ao fim da noite, fazer uma jantarada em nossa casa ou na casa de algum deles, jogar umas cartinhas e rir à brava de historias hilariantes de acontecimentos do dia, ver um filme à lareira e comenta-lo ao fim da noite. Fazer o mesmo aqui torna-se mais difícil porque nem toda a gente está próximo ou não há tempo para nada, porque aqui a vida acontece ao sabor do tic-tac do relógio.

E pensar que quando tinha 10 ou 11 anos fiz uma composição na escola sobre o futuro e a imagem que descrevi nesse mesmo texto é aquilo que hoje encontramos: pessoas a falar sem fim para o ecrã de um objecto pequeno (agora o telemóvel) ou a falar para o ar, parecendo que falavam sozinha, porque não iria haver um aparelho pequeno, tipo microfone, que se metia nas camisolas para falar com outras pessoas (o que podia ser hoje o auricular). Descrevi também a possibilidade de se poder ver televisão e ouvir rádio e musica nesse mesmo objecto (tablet?) e fazer o caminho todo até casa sem reparar numa única onda do mar, ali mesmo ao lado! Nesta altura era divertido pensar numa sociedade assim e lembro-me até que, nos anos 90, este ideia seria algo muito avançado... mas agora que este tipo de individualidade se tornou tão real, assusta-me ver cada vez mais as pessoas a refugiarem-se nas tecnologias sempre que estão aborrecidas ou sozinhas.
Óbvio que nem tudo é mau mas sinto falta de apenas ter 10 minutos para fazer tudo o que preciso (e não preciso) no computador, tal como ter apenas 4 canais de televisão para a poder apagar mais depressa e trocar isso por um filme e ter o resto do tempo para estar com quem realmente quero, partilhar experiências reais e passar momentos sozinha (a ler, a escrever, a pintar ou a correr no meio da natureza) sem me sentir aborrecida.
Sem comentários:
Enviar um comentário