quinta-feira, maio 17, 2012

Noites de Verão

Este calor fora de tempo, nomeadamente o que se tem feito sentir durante a noite, fez-me lembrar das magnificas noites de verão passadas em Argozelo, há muito tempo atrás, quando ainda era miúda e ainda nem tinha muitos amigos, sem ser os vizinhos, para fazer grandes noitadas... ainda assim foram momentos únicos que jamais se voltam a repetir e que, cada vez mais, deixam uma saudade dentro de mim. Nunca mais voltarão a ser o mesmo, não apenas por todos termos crescido e mudado e fazermos outras coisas, mas sim porque também já nem o tempo que se fazia sentir naquela altura é o mesmo que hoje faz nas noites do mês de Agosto.

É caso para dizer que "eu ainda sou do tempo" em que faziam mais de 30º à noite no mês de Agosto e não a corrente de ar fria que agora teima em aparecer nesta época. Nessa altura, como ninguém conseguia dormir com tanto calor, ficava tudo na rua até às tantas a conversar, tudo vestido de manga curta e calções. Quando eu digo que toda a gente ficava na rua, era mesmo toda a gente, desde o mais bebé ao mais velho do clã. As ruas enchiam-se de crianças a brincar na estrada como se fosse de dia, até às 3 ou 4 da manhã e os vizinhos juntavam-se todos nas varandas ou nos pátios entre as casas a conversar até estarem todos realmente cansados. Parecia uma reunião familiar entre todos os vizinhos. De vez em quando, la vinham os meninos atrevidos na casa das idades dos 20 que pegavam nas raparigas ao colo e as deitavam ao tanque para "refrescar". Alguns pais não achavam muita piada mas vai na volta até queriam ser eles a tomar banho em público! Mas era o suficiente para se gerar uma zaragata e uma confusão para animar a noite e era bem provável que esse rapaz gostasse da rapariga e seria uma forma de aproximação.



O que realmente sinto falta e todas as noites me lembro, era das horas infinitas que ficávamos nas escadas da minha tia a conversar, a beber um sumo fresco e a comer "galletas". Para mim, naquela altura, aquilo era um banquete e claro está, uma oportunidade de ficar acordada até mais tarde. Nessas noites lembrava-se outros tempos de criança que também os meus pais e os meus tios acabavam por sentir falta. Contavam-se anedotas ou simplesmente situações hilariantes que realmente tinham acontecido e podiam muito bem vir a ser anedotas. Eu e o meu primo, as vezes, lá andávamos à batatada mas a noite acabava sempre comigo a dar um espectáculo de música a cantar para todos, nada mais nada menos do que a música da "Mula da cooperativa"... pois é, a vergonha das vergonhas mas ainda bem que naquela altura nem tinha noção das figuras que fazia. Ao menos sempre é mais alguma coisa para lembrar.

Outro acontecimento que me lembro muitas vezes são dos repentinos "apagões nocturnos" provocados pelas trovoadas tropicais que teimavam em aparecer sempre a meio do mês. Era o momento em que os casalinhos aproveitavam para sair à socapa de casa e irem "guardar as portas" vizinhas com a sua cara metade. Ou então, o momento ideal para os rapazes assustarem as raparigas que iam para o café pelas ruas escuras da vila, os únicos locais onde ainda havia luz por causa do geradores. Tudo valia para não ficar em casa, independentemente dos pais quererem ou não. Mas aquele cheiro da chuva a cair na terra seca ficava a pairar durante dias e as coisas mais simples pareciam sempre fazer mais sentido naquela altura. Agora reparo como até o próprio tempo pode influenciar as relações entre as pessoas, mas a verdade é que vão sempre haver momentos que vão ficar como histórias para contar de geração em geração.

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