terça-feira, julho 15, 2014

O que era suposto afinal?

Quantas vezes não desejamos fugir da rotina? Em vez de fazermos aquilo que "é suposto"? Em de nos limitarmos a viver mais um dia igual ao outro? Quantas vezes não queremos fazer algo diferente? Desviarmo-nos daquilo que sentimos ser o nosso próprio caminho... mas quem nos impede? Obrigações? Compromissos? Preguiça? Um inumero mal de desculpas que encontramos para não sairmos da nossa zona de conforto. É um risco, é desconfotável e achamos sempre que algo vai correr mal se não "estiver nos planos" dos nossos acontecimentos. E o que é a vida afinal, se não um risco? Do que serve a rotina se não a podemos quebrar? Se o inesperado não existisse, o que seriam as nossas vidas?

Um dia peguei no carro à hora do almoço e decidi frazer algo "inesperado". Fui direta para o monte e decidi ir almoçar fora. Levava uma salada e uma garrafa de água. Ao chegar ao local, sentei-me à beira do precipicio: Lá em baixo estava o rio, a natureza e a estrada que a atravessava em paralelo com aquele rio. Deixei o telefone no carro e fiz questão de são ser encontrada. Tinha aproveitado e deixado o radio a tocar, tendo como banda sonora músicas dos anos 80, que sempre me fazia voltar atrás no tempo. O vento soprava de forma delicada e a salada refrescava o calor que se sentia àquela hora da tarde. Embora estivesse sozinha sentia-me protegida e o melhor de tudo era sentir-me realmente ousada por estar a fazer algo fora do comum, algo que "não era suposto" e estar a fugir à rotina. Por momentos, imaginava-me a viver uma outra vida, tudo graças àquele momento impulsivo. E não tinha sido por acaso que me tinha sentado no limite do precipicio, sentia-me no limite de mim mesma, da minha vida.





Quando terminei reparei em algo que chamou a minha atenção. Uma águia ou falcão planava mesmo à minha frente. Ele, tal como eu, guiava-se pelo sabor do vento. As suas asas estendidas não batiam. Planava apenas. Às vezes aproximava-se do solo, confundindo-se com o rio que não parava de correr e outras vezes parecia que se iria perder na imensidão daquele céu azul. Houve um momento em que parecia apenas planar a observar-me, tal como eu estava a fazer, sentada naquele precipicio. Ele não soube mas naquele momento invejei-o. Invejei a sua liberdade, as suas asas abertas e o desconhecido que tinha de enfrentar. Era o rei dos ares, enquanto eu, mesmo sendo a dona da minha vida me sentia presa a uma rotina que queria cortar a todo o custo, da qual pensava não conseguir escapar até àquele momento. Fechava os olhos, sentia o vento, o som do rio lá em baixo e tentava sentir o mesmo que aquele animal selvagem. Respirei fundo e voltei a abrir os olhos. Porque tinha de ser tudo tão complicado? Porque tinha de ser tudo tão "suposto"? O que era suposto afinal?

Decidi caminhar. Não sei quanto tempo a caminhada durou, apenas sei que me perdi nos meus passos e nos meus pensamentos enquanto andava às voltas naquele recinto de capelas e de precipícios. Apesar de tudo era reconfortante estar ali, longe de tudo e de todos, onde me podia sentir compreendida pela próprio natureza, sem me sentir julgada. Depois da caminhada fui embora, novamente no carro. Fui fazer "o que era suposto" para o meu dia-a-dia, mas antes de voltar para o trabalho, regressei àquele lugar. Estacionei o carro em frente à capela, subi as escadas, saltei para o muro onde ainda batia o sol e comecei a escrever. Não só tinha quebrado a rotina naquele dia, como o tinha feito duas vezes. Para principiante já estava a arriscar. Mais uma vez não quiz ser encomodade e deixei o telefone no carro. De quando em quando passavam outros carros e, embora muitos estivessem curiosos com a minha pessoa ali sentada, nenhnum se atreveu a parar. Eu fingi que não os via, que continuava sozinha naquele lugar. Agora era apenas eu, a natureza, uma folha em branco e uma caneta na mão. E isto sim, era o que o eu achava que era suposto eu fazer, aquilo que realmente me dava prazer. E de algo inesperado nasceu uma nova rotina e todos os fins da tarde ia escrever para cima daquele muro. Chamava-lhe o "muro da liberdade", a mesma que eu não tinha, sem ser naquela hora em que o mundo era meu.

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