Passo o dia sem fazer nada, sem vontade de escrever, sem paciência e de repente, uma pessoa deita-se na cama a descansar e pimba, parece que o cérebro acorda. A inspiração vem e cresce, e parece que sou até capaz de escrever tudo e mais alguma coisa. A vontade de escrever vem logo mas a capacidade de "fazer filmes" na minha cabeça, torna-se uma capacidade inacreditável. Lembro-me de uma vez ter feito um daqueles testes malucos que o facebook tinha logo no início que identificavam o tipo de escrita que temos e, curiosamente, calhou-me a "escrita cinematográfica", algo que me deixou perplexa mas ao mesmo tempo não me surpreendeu porque cada palavra, cada frase ou paragrafo de cada texto que escrevo, no fim de contas, é o desenrolar de um filme que vai passando, pormenorizadamente, na minha cabeça... e passar isto para papel, muitas vezes torna-se uma tarefa árdua, tudo para dar a conhecer ao leitor aquilo que na realidade se está a "ver".
Muitas vezes dou por mim a ouvir uma música, fechar os olhos e imagino um videoclip perfeito para aquele ritmo e para aquela letra. Uma combinação de som, imagem e letras. O mais provável, se tivesse uma câmara na mão, era não conseguir captar nada daquilo que realmente acabo por conseguir através das palavras, mas até gostava de experimentar. Mas não haja dúvida que o melhor dos dois mundos é ter um guião, uma câmara na mão e o cenário perfeito para criar algo que a nossa imaginação nos permitiu ver. Cada vez me maravilho mais com estes dois mundos artísticos e, embora não goste muito de adaptações cinematográficas de obras literárias (quando os realizadores querem dar um toque pessoal a algo que já foi criado antes), a verdade é que (na minha opinião), não há nada melhor do que ver a nossa obra escrita, representada no grande ecrã. Teríamos aqui que discutir várias condições e limitações deste processo, tendo igualmente de haver um respeito por ambas as partes - escritor e realizador - mas, quando dou por mim a escrever, imagino como seria ver alguém representar aquilo que estou a imaginar e a descrever.
Uma coisa que certamente irei sentir muita falta de Lisboa, serão as visitas à Cinemateca. Não havia programa que me encantasse mais do que sair das aulas, ir comer qualquer coisa pela cidade e subir a avenida para ir tomar um café à esplanada da Cinemateca antes de ir ver um filme. Além do preço ser convidativo, permitiu-me perceber a importância dos filmes clássicos europeus, aumentado a minha curiosidade para ver filmes menos comerciais e mais independentes. E quantas vezes estamos a ver cenas em filmes actuais que, na verdade, são técnicas, métodos, deixas e até actuações de filmes clássicos, sem darmos a menor importância. E a melhor sessão será sempre o filme Gato Preto Gato Branco de Emir Kusturica, cujo filme chorei a rir do início ao fim, com uma história estupidamente hilariante e genial. Vou sentir falta destas sessões nocturnas pela capital.
Entretanto, tenho-me dedicado à revisão do meu (eterno) livro que comecei a escrever aos 14 anos e ainda hoje não o consigo dar por terminado. Parece uma saga sem fim e o problema está nisso mesmo, no fim que quero ou que devo escolher para o livro. Romances dão sempre mais trabalho do que qualquer outro género: morrer por amor, ficar juntos, ficar separados e viver um amor sem fim... enfim, o drama do final da trama tem-me sufocado durante anos mas espero este ano acabar (finalmente) este maldito ou bendito - não sei - livro. Publicar é algo que, neste momento, está fora de questão. Não quero apenas editar um livro só porque sim, não quero vender só porque sim, mas quem sabe, mais tarde, pretenda fazê-lo. Confesso que o medo de fracassar também existe, mas acho que prefiro continuar a produzir outras coisas e a aperfeiçoar a minha escrita, antes de correr outros riscos. Talvez por isso tenha este blog e outro livro já pensado para vir a caminho, já que não me atrevo a tocar em câmaras!
A verdade é que ambas as artes nos permitem desligar um pouco da nossa realidade e descobrir novos mundos, criando novas situações, novas emoções, novas paisagens... mas sempre tendo um pouco de nós e daquilo que somos ou desejamos ser. É sempre a criação de um filme, de uma nova realidade que nos permitirá sempre sonhar.
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