Se houve coisa que sempre tive, foi curiosidade em estar na terrinha no tempo das vindimas. Sem dúvida alguma, o mês de Setembro tem sido o mês eleito para realmente descansar e passar férias, principalmente depois do frenético mês de Agosto, neste cantinho transmontano. Agora que essa possibilidade se proporcionou não perdi a oportunidade de passar um dia a vindimar! Como em muita coisa que por cá se vem fazendo, o importante acaba sempre por ser o convívio - principalmente há hora da merenda - mas realmente o ambiente das uvas tem algo de místico e belo, características que tornam esta actividade tão única. O trabalho de equipa é fundamental: uns cortam as uvas, separando-as para os cestos, enquanto outros apanham os cestos cheios para os tanques em cima do tractor. Estando estas tarefas divididas, não há mãos a medir e só se para mesmo no fim (ou para a merenda).
De manhã é que começa o dia, por isso, fica quase impossível fugir àquele friozinho matinal que nos refresca logo de manhã, ainda mal o sol nasceu. Por isso, um agasalho nunca é demais, embora se vá aquecendo com o trabalho. A navalha não deve faltar no bolso, nem o cesto para as apanhar. E nada de preocupações em perder a navalha, porque, ao fim de alguns bagos apanhados, as mãos tornam-se em cola, consoante o sumo da uva se vai agarrando à nossa pele. Facilmente podemos abrir a mão com a navalha - ou tesoura - na mão, que ela não cai, vos garanto! A não ser, claro, que tenham levado umas luvas para não sujarem as mãos, mas confesso que eu não consigo trabalhar com elas, nem por nada! Desde o momento em que todos se juntam, as línguas não param, sejam para falar, para ralhar ou simplesmente para cantar, por isso, a boa disposição não pode mesmo faltar. Sem dúvida que são momentos muito bem passados, principalmente quando se faz uma pausa de segundos na apanha das uvas, para se poder apreciar a paisagem que nos rodeia.
O melhor de tudo, é que, mesmo que a fome aperte e nos faça revirar o estômago, podemos sempre "picar" umas uvinhas, que ninguém leva a mal. Alias, pode até ser considerado falta de educação não se provar as uvas, gabar e dizer como estão boas - ou não, caso estejam ainda ácidas! O que importa é opinar e trabalhar ao mesmo tempo... sim, porque o tempo dá para tudo e, sem darmos conta, já está tudo acabado e só passou meio dia. Tudo o que é bom, passa sem darmos conta, daí devermos dar valor ao presente. A chatice é quando somos canhotos e toda a gente anda atrás de nós, com o coração nas mãos, com medo que nos cortemos. Acredito que faça confusão, mas acreditem, o hábito já é muito grande e, ao contrário do que esperavam, não me cortei mas, em contra partida, acabei por ser picada num dedo por uma abelha! Vingança da natureza.
No fim, vai tudo para adega, para virar vinho... e não há nada melhor do que uma boleia de tractor depois de uma manhã de trabalho. A curiosidade de pisar as uvas tomou conta de mim, mas depois de alguns avisos de como estavam frias - geladas até - rapidamente desisti da ideia de as experimentar pisar, pois, sejamos realistas, o verão já lá vai! Agora é esperar que tudo fermente para fazer vinho. Enquanto isso, aproveita-se este tempo para apanhar alguma lenha como prevenção para o inverno rigoroso que se avizinha - momento ideal para voltar a renovar o ar dos pulmões!
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