quinta-feira, outubro 11, 2012

A Tradução é um Puzzle

Não é que goste muito de falar de coisas teóricas, mas hoje apetece-me falar um pouco do mundo da tradução. Ao contrário do que muitos julgam, a função de tradutor exige mais do que um conhecimento de uma língua: exige o conhecimento da cultura da língua materna e da língua que se vai traduzir, exige uma cultura geral elevada, exige um interesse por matérias diversificadas e claro está, uma actualização a todos estes níveis. logo, o tradutor deve ser alguém "multifacetado" dentro daquilo que lhe compete fazer, ou seja, tornar um texto o mais perceptível possível na sua língua materna. E não vamos confundir tradução com retroversão, uma vez que são coisas completamente distintas (traduzir da língua materna para uma língua estrangeira) e que exige ainda mais de quem traduz, a todos os níveis.


Gosto de comparar a tradução ao mesmo processo de construção de um puzzle: algo moroso, que exige paciência  concentração e muitas horas de dedicação. E quem gosta de fazer puzzles sabe bem o que é não descansar enquanto este não estiver concluído (a tradução pode ter este efeito quando se gosta do que se está a traduzir) e o que é avançar e pequenas peças fáceis de destingir e demorar horas a encontrar a tal peça de uma cor que parece igual a todas as outras peças da mesma cor. Por isso, a tradução não passa de um jogo de lógica, onde o contexto textual dita as regras, onde a cultura está sempre presente, onde a terminologia não tem fim. Uma pessoa bilingue apresentará uma tradução mais fluente e natural, enquanto que um estudante de tradução apresentará uma produção mais virada para a técnica da tradução.

De todos os processos tradutórios o que menos me agrada, é a tradução literária. Neste momento, não me atreveria a envergar por este caminho, pelo simples facto de ter consciência que só alguém com muita experiência e muito conhecimentos literário que eu sei que não tenho), poderá apresentar algo fabuloso. Pior do que isso, é o distanciamento que tem de haver entre quem escreveu e quem vai traduzir, e pensar que o tradutor se pode tornar num "violador" do texto original, é algo que não me agrada! Chamem-se céptica ou antiquada mas realmente não me iria agradar pensar que alguém pudesse alterar ou adaptar algo que tenha escrito ou dito e, como tal, ainda não me sinto capaz de trabalhar nesta área da tradução. Talvez seja apenas por ingenuidade, mas quem sabe, lá para os 40 tenha capacidade para isso.

De momento estou mais virada para a tradução audiovisual, bastante mais dinâmica, e para a tradução técnica, que acabam sempre por acrescentar novos currículos ao nosso conhecimento. Além de ter temas mais diversificados e a pesquisa ser mais exigente, é um processo muito mais atractivo. Não há nada como uma mesa cheia de dicionários, prontuários, enciclopédias e passar o dia à procura, como quem tenta encontrar uma agulha no palheiro.

Por isso, para quem pensa que traduzir é apenas passar de uma língua para a outra, só com a consulta de um dicionário ou de um tradutor online, que se desengane... é preciso procurar, encontrar, desenvolver, retorcer, avançar, voltar atrás, rever, escrever e reescrever, pesquisar, confirmar... e tudo em prol de que as palavras e os sentidos não se percam pelo caminho!

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