segunda-feira, maio 27, 2013

Paragem do metro

Ela sabia que aquela era a última despedida. O abraço pareceu-lhe insignificante para o tempo que desejava que ele durasse e o som da multidão parecia ter sido totalmente substituído pelo silêncio sentido no interior, um vazio profundo que tomava conta dela. Ele fechava os olhos, com saudades, sem certeza, confuso mas livre. Agora só carregava o peso de um sentimento incerto, algo que antes tinha sido demasiado intenso para ser negado. O tempo passava e a despedida era inevitável. Ambos queriam fugir para acabar de vez com aquele sentimento, para evitarem a vontade de ficar.

Ela acabou por o largar, cabisbaixa para esconder a verdade do seu olhar. Todo o seu corpo se contorcia para não deixar cair uma única lágrima. Todo o seu corpo lutava para esconder o que ainda estava à vista de todos aqueles que passavam. O fim sem vontade, o medo do incerto, a solidão. Ambos seguiram os seus caminhos sem hesitação, sabendo que nada mais havia a fazer, nada mais havia para conversar. Ele, mais do que ela, tentava bloquear os seus pensamentos confusos, indecisos, tentando converse-se que estava a fazer o que era certo... embora nada nem ninguém lhe pudesse consolar a dor de a ver partir.

Agora as suas vidas iam ser como aquela linha de metro. Cada um estava de um lado diferente da plataforma, seguindo caminhos opostos. Esperavam pelo metro como quem esperava pelo destino incerto que tinham pela frente. Custava a respirar, o sufoco apertava como aqueles túneis que se perdiam no interior da cidade... a mesma cidade que tinha testemunhado a paixão do seu olhar, os sorrisos nos seus rostos, a cumplicidade dos seus abraços e os passeios sem fim ao cair da tarde, as promessas de um amor eterno! O mesmo amor que agora os consumia com uma mágoa silenciosa.

O metro chegou. Ela entrou e, num impulso, virou costas para não o ver, como que virando costas a um passado que tinha ficado marcado bem dentro de si, com a ferida mais aberta e que não iria sarar. Foi então que ele percebeu que a sua decisão não podia voltar atrás. E, ao mesmo tempo, em locais diferentes, ambos choraram a perda de alguém que já não preenchia mais nenhum espaço. E tal como aquele metro, cheio de linhas cruzadas, estava a vida daquelas duas almas que agora partiam sem saber se algum dia se iriam voltar a cruzar!

Ana de Quina F.

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