sábado, julho 19, 2014

Livres como a noite

Nem mesmo o vento gelado e cortante da noite conseguia congelar o sangue fervente que corria nas veias daqueles dois jovens rebeldes. Caminharam toda a noite ao sabor das histórias de cada um. Conheciam cada canto daquela cidade, cada esquina, como as palmas das suas mãos. Embora fossem dois enamorados, pareciam dois delinquentes que vadiavam clandestinamente por aquelas ruas. Percorriam quilómetros sem se aperceberem e sem se cansarem. Mesmo sendo conhecidos por todos naquela cidade, naquela noite seria difícil destingui-los na escuridão. Ela trazia uma camisola larga e com um capuz que ele tinha sido obrigado a emprestar-lhe, ficando apenas com o casaco para se proteger do frio da noite.

Enquanto caminhavam, ela reparava e admirava o seu geito livre e a sua coragem com a sua atitude destemida perante a própria noite. Já ele apenas se focava no brilho do seu sorriso e do seu olhar refletindo a lua. Sentia que era capaz de tudo para a ver sorrir, sem sequer desconfiar que ela se apaixonava a cada gargalhada que ele lhe provocava. A única testemunha era a lua e eu. Via a inocência dos seus gestos e das suas palavras, a honestidade de cada troca de olhares e nos abraços apertados que o vento não conseguia atravessar e ainda menos separar. Ele tinha-lhe prometido um amanhecer como ela nunca antes tinha visto. E ainda antes da lua se despedir deles, correram para o topo da igreja.


Subiram a escadaria e esperaram... e lá no fundo, os primeiros tons de laranja e rosa começaram a aparecer. Lá no fundo, o castelo parecia granhar novas tonalidades e naquele momento ambos se sentiram capazes de agarrar o mundo. Estavam a vê-lo acordar e eles ainda nem tinham dormido. Tinha sido a promessa mais bonita que lhe tinham feito e o momento mais mágico ao qual tinha assistido. Eele abraçou-a com mais força do que antes. Ela sentia-se segura nos seus braços. Podiam não estar destinados um para o outro mas eram as duas metades mais belas que algúm dia tinha visto. Com ele, ela ganhava toda a inocência de uma criança, perdendo a silhueta de mulher. Com ela, ele ganhava todas as certezas do mundo e sentiu-se um herói, já que mais ninguém lhe dava valor. E quanto mais o sol nascia, mais os seus corações batiam como um só. Agora sim, ele podia ver aquele rosto gelado iluminado pelo seus sorriso e pelos primeiros darios da manhã. Nos seus braços, ela via o verdadeiro homem que a protegia do mundo.

A despedida foi suave e lenta como o beijo que deram no cimo daquela torre da igreja, enquanto o castelo chamava por mais aventuras naquela cidade. Ele prometeu-lhe mais um amanhecer no cimo daquele castelo e ela acreditou. Já sabia que ele fazia promessas que cumpria e isso ainda a apaixonava mais. Ambos partiram e aquela cidade, tal como eu, não via apenas nascer o sol, via nascer um amor delinquente, daqueles que só se vive uma vez de forma tão intensa e tão verdadeira, livre como eles eram.

Sem comentários:

Enviar um comentário