quarta-feira, julho 30, 2014

A intensidade de um gesto

A festa tinha começado com música alegre e toda a gente parecia ter esquecido o tempo frio dos últimos dias. As conversas vagueavam por entre as pessoas e a música convidava agluns a dançar. As crianças corriam e brincavam por entre a multidão e alguns jovens aproveitavam para se aproximar daqueles que se haviam enamorado, não o escondendo com os olhares que eram trocados vezes sem conta no meio da multidão. Olhares cumplices que apenas eles entendiam mas dos quais muitos se davam conta.

Joana sorria ao pensar que também ela já tinha sido assim mas agora sabia que não precisava ser tão discreta, nem queria esconder o amor que por ele sentia. ambos estavam à conversa com os amigos e eram raras as vezes em que deixavam a mão um do outro. Diogo adorava a forma como ela era divertida e sorris com gargalhadas soltas e alegres, sem medo de parecer ridicula, pois só a queria ver feliz. Ela adorava a forma como ele conversava, com o seu sarcasmo e boa disposição de sempre, enquanto se sentia protegida com as suas mãos entrelaçadas nas dele.

Todos sorriam, conversavam e bebiam alegremente e ninguém parecia ficar indiferente àquela cumplicidade e união entre eles. Para alguns já não era novidade aquele comportamento, mas continuava a intrigar  a curiosidade dos mesmos; para outros parecia um dilema, tentar entender como poderia realmente existir um amor assim. Quem realmente parecia compreender tudo, sem pensar em nada, sem questionar nenhum gesto ou nenhuma palavra, eram apenas eles. Tudo lhes era natural e irracional. Espontâneo. Sabiam que se amavam e isso chegava para serem felizes.



Um a um, os pares da mesa foram se levantando e mesmo quem não tinha um, acabou por ir para o meio do baile, dançar um pouco. Joana e Diogo ficaram e ele aproveitou aquele momento sozinhos para lhe sussurrar algo no ouvido e dar-lhe um beijo. Ela sorriu e, sem aviso, levantou-se e puxou-o da cadeira para o encaminhar para junto do resto dos amigos. todos dançavam e tanto ele como ela lembravam um tempo antigo, que já não existia para além das suas memórias.

Mas o tempo parou quando Joana rodou na mão de Diogo e os seus olhos se encontraram. Por momentos o vento deixou de soprar, o frio da noite deixou de atravessar as suas peles e a música tocava bem ao longe. Foi então que ele se aproximou e a tomou nos seus braços, num abraço envolvente e aconchegante. Queria-a mais do que tudo. Ela fechou os olhos para não acordar daquele momento mágico na sua companhia, o mesmo que a acalmava no meio daquela multidão e que a fazia sentir-se tão segura de si e do seu amor.

Decidiram ir buscar uma bebida. Diogo levou-a debaixo do seu braço e ela sentia-se protegida, como sempre. E enquanto passavam, eram seguidos por olhares que pensavam tudo de boca calada. No fundo, invejavam o que viam. Desejavam e queriam um amor como aquele, livre, rebelde e inocente, mas principalmente era verdadeiro, como a inocencia dos seus olhares e dos seus gestos trocados de forma espontânea, sem esperar nada em troca. Eram felizes e faziam questão de o mostrar ao mundo. O resto?... Nada mais importava.


Ana de Quina F. (2011)

Sem comentários:

Enviar um comentário