quarta-feira, maio 20, 2015

Hoje não escreveste...

Hoje o dia está cinzento. As ruas estão desertas e as janelas espelham o meu reflexo que se perde em pensamentos turbulentos. Olho para as ruas e procuro o que não encontro, até que ele chega mas não para. Passa sem aviso, sem esperar um único movimento meu. Os meus olhos seguem o carteiro sem rumo, perdendo-se numa esquina que não conheço. É o momento de me afogar em saudades, na tristeza que deixas sem saber.

Hoje não escreveste. Nem uma palavra, nem uma letra que fosse. Nem um olá, para poder colocar um sorriso no meu rosto e fazer-me esquecer este dia frio e triste, tão triste como eu. Hoje soube que não pensas-te em mim. Não soube o que fazias, o que pensavas, o que comias, o que vias... não soube nada de ti e perdi-me em mim. Queria tocar numa folha que trazia o teu cheiro, a tua voz que ecoava no meu pensamento, as imagens de um dia percorrido contigo. Deixas-te isso para trás, esqueceste-te de mim.


Hoje não disseste o quanto tens saudades, o que me faz pensar que talvez não tenhas tido. Não me mostraste o teu novo quadro que estavas a pintar, não me fizeste caminhar contigo no jardim botânico, que visitas todas as tardes, não me levaste a beber o vinho e a comer o queijo que costumas tomar no café ao lado de tua casa, com o teu melhor amigo. Não me levaste ao cinema a ver um filme de ação, nem me deste um beijo de boa noite ao despedires-te. E de repente tudo se transforma em nada, quando me encontro sem ti.

Hoje não escreveste um verso dos poemas que costumas dedicar-me. Nem uma frase roubada de outro autor. Ainda menos me fizeste uma lista de livros que devo começar a ler ou sequer me mandaste um beijo de saudades. Hoje, por tua culpa, não sei o que fazer e começo a esquecer-me do teu toque, da tua voz, do teu olhar, de ti... de nós. Foste egoísta ou simplesmente não te lembras-te de mim. Obrigas-me a voltar a ser uma criança que precisa de atenção para continuar a crescer. E eu não quero mais isso, pelo menos hoje que não sei onde estás, como estás, com quem estás.

Hoje não me escreveste, a tua carta não chegou e eu continuo a só querer ler uma palavra tua, para saber que hoje te lembras-te de mim.

Ana de Quina (Maio 2015)

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