quinta-feira, setembro 03, 2015

Escrever é uma terapia.

Infelizmente não tenho muito jeito com as palavras ditas. A língua começa a enrolar-se, a boca começa a ficar seca como uma adolescente que entra em pânico por estar a falar com a sua grande paixão e se o caso envolve momentos mais enervantes, as lágrimas começam a fazer parte do discurso distorcido e incompreensível. Por isso mesmo escrevo.

Ao escrever as palavras fluem, a língua não se mete no meu caminho e a caneta parece ser uma grande aliada ao debitar todos os meus pensamentos, os meus medos, os meus segredos numa folha em branco, à espera de ser preenchida com memórias. E se o assunto for para "apagar", basta rasgar ou queimar aquele bocado de papel e tudo o que tínhamos para dizer foi dito e ao mesmo tempo esquecido no mesmo instante. Assim se tira um peso de cima do peito e damos descanso à nossa mente.

Escrever não é apenas uma arte, muito menos o considero um dom. Não gosto de escolher muito as palavras que escrevo. Escrevo como falo e de uma vez só, como um comboio a alta velocidade que pode descarrilar a qualquer momento. E o melhor de escrever é isso mesmo. Podemos descarrilar à vontade, sem fazer feridos, sem magoar ninguém. Ao contrário da palavras dita, ela não machuca tanto. Despejamo-la para o papel da mesma forma que deitamos o lixo no seu devido lugar e rapidamente esquecemos... já a palavras dita, infiltra-se nos cantos da nossa memória e aos poucos vai proliferando como um vírus altamente contagioso, ao ponto de nos corroer a alma e só depois conseguimos, aos poucos, ir apagando essas palavras da nossa mente e do nosso coração.

É por isso que prefiro escrever, é por isso que me sai mais facilmente as palavras não verbais e deixo a minha mente falar da forma que quiser. É por isso que me agarro a um imaginário onde as palavras são doces, os toques são quentes e os olhares são sinceros. É por isso que escrever nos limpa a alma, nos permite viajar dentro de nós próprios e proporcionar uma paz interior quase tão grande como a meditação. Escrever pode e deve ser uma religião mas poucos terão o dom de ler nas entrelinhas, para além do óbvio e daquilo que não foi dito de forma clara e directa. Por isso mesmo escrever é a minha forma de estar e ver a vida.

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