quinta-feira, setembro 24, 2015

Cidade ou campo?

Hoje li uma frase com a qual me identifiquei, acompanhada de uma imagem linda de um final de tarde, inicio de noite, que me fez parar no tempo e pensar realmente sobre esta questão. Cada vez mais sou confrontada pela típica pergunta de "como gostas de um sitio onde não há nada?" ou as constantes exclamações que me deixam completamente passada de "como é uma rapariga que nasceu numa cidade consegue gostar tanto do campo!". A resposta é simples: por tudo aquilo que o campo tem que a cidade não me dá! Quem quiser entender, vai entender... quem não quer, não vai entender. Simples.

Para muitos a vida da cidade é tudo: discotecas (que eu odeio), a "vida da noite" (que se pode ter em qualquer noite, em qualquer lugar), atividades culturais (na cidade quer dizer moda e sítios "in"), praias (tenho uma a cinco minutos de casa), trabalhos melhores (com salários de escravo), mais oportunidades (será?) e vidas espetaculares para partilhar com amigos e família (viva o facebook). Sinceramente, dispenso estas coisas na minha vida. E no que toca à tecnologia, cada vez desprezo tanto a vida na cidade como o uso das mesmas. Não, não é apenas para ser do contra, é querer ser cada vez mais verdadeira comigo e com os que me rodeiam. Até mesmo os que moram no campo sonham em ir viver para a cidade, por isso quase parece uma ofensa esta forma de pensar mas acredito que é preciso perder aquilo que temos para lhes dar valor e neste caso acredito que não estarei errada.

Se todos tivessem a oportunidade de ir passar um fim de semana para o campo, sem trabalho, sem problemas, sem tecnologias, com o mínimo indispensável, talvez conseguissem realmente encontrar aquilo que muitos tentam procurar e não encontram: nós mesmos. Para a maioria iria ser difícil deixar os pequenos vícios rotineiros para trás, mas acredito que muitos iriam voltar para esses mesmo vícios com outra perspectiva da vida, o que já por si tinha valido a pena.

Ninguém tem noção da inveja que tenho daqueles que podem sair de casa e ver as estrelas quase todas as noites. Daqueles que se podem perder por caminhos de terra no meio da natureza e ouvir a natureza chamar por nós, desde o som dos pássaros a cantar ao simples som do vento a correr por entre as folhas das árvores. Daqueles que se juntam num largo qualquer com os amigos e ficam até às tantas a conversar e a beber, sem querer saber das horas. Daqueles que vêm o entardecer a desaparecer no horizonte, atrás de montes de vários tons e que nos fazem sentir formigas neste mundo. Daqueles que conduzem em estradas que atravessam o coração da natureza e se perdem em pensamentos enquanto o fazem. Daqueles que trabalham todos os dias no campo com os amigos ou familiares, ralhando e discutindo, ficando tudo esquecido ao fim do dia com uma jantarada e um convívio genuíno. Daqueles que podem sair de casa e ir a pé para todo o lado dentro das suas terras, sem ter de depender de trânsitos e carros. Daqueles que podem correr ou ir passar de bicicleta e ir descobrir caminhos novos todos os dias. Daqueles que sobem aos telhados ou aos montes mais altos pela madrugada para ver o nascer do sol antes de começar o dia. Daqueles que vivem em casas modestas e típicas, cheias de histórias e tradições. Daqueles que vivem das estações e daquilo que a terra lhes dá. Daqueles que vivem a cuidar de animais e passam mais tempo com eles do que com as pessoas...

"Pessoas da cidade não entendem o que é estar apaixonado pelo campo", a não ser que já o tenham experimentado. E sim, faz falta não ter nada, faz falta sermos apenas nós próprios, faz falta viver com menos e ter mais doutras coisas, faz falta aproveitar melhor o nosso tão curto tempo, faz falta ser simples e amar as coisas simples que a vida tem para nos dar. Só assim podemos ser completos, únicos e autênticos. O campo sempre foi a minha segunda casa e cada vez mais quero que seja a primeira, para desagrado de alguns, mas sei que apenas ali posso ser eu, odiada por muitos, amada por outros, mas EU. Apenas quero ser feliz onde me sinto bem e não é a cidade que me dá esse sentimento. Costuma-se dizer que a nossa casa é onde está o nosso coração e o nosso amor, e não podia estar mais de acordo.

Ainda não há muito tempo fui confrontada com um pensamento errado, como se me tivesse virado para o campo para fugir a uma outra realidade, mas olhando para trás e continuando a acreditar na minha máxima de que nada acontece por acaso, a verdade é que sempre desejei fazer a minha vida fora de onde a fiz, sempre quis que a minha segunda casa fosse a primeira e agora que não tinha mais prisões na cidade, porque não aproveitar e arriscar? porque não ir atrás de um sonho? porque não perseguir uma vontade tão grande? Era o agora ou nunca e fui com tudo, para onde o meu coração desejava estar. Parece bonito, mas a vida é mais difícil do que esperamos, principalmente quando nos rodeamos de gente que não entende porque escolhemos uma vida de felicidade a uma vida de conforto, uma vida simples a uma vida de luxo, uma vida calma a uma vida estressante... são escolhas e esta é a minha, gostem ou não!

Aquilo que era para apenas ser uma reflexão, acabou por se tornar um desabafo pessoal, talvez porque assim teve de ser, talvez por não conseguir gritar ao mundo aquilo que trago no coração e como me irrita viver uma vida igual a todos os outros, imposta por uma sociedade cheia de "certos e errados" e de pensamentos formatados... quero sim ser livre, ir atrás dos meus sonhos, ir atrás daquilo que sei que posso ser e ainda assim não precisar de ser burra ou perder qualidades como muitos julgam. A estupidez depende da nossa vontade de o ser ou não. E estupido é aquele que acha que por nascer na cidade é mais inteligente do que os que nascem no campo... cada um com as suas qualidades e os seus defeitos, cada um com os seus conhecimentos e cada um com o seu destino... o meu é apaixonar-me todas as manhã pela vida, como os gatos que olham para tudo como se fosse a primeira vez e escrever tudo aquilo que não tenho coragem de dizer. Poucos saberão o prazer de estar no meio da natureza com um caderno e uma caneta e deixar-se perder em palavras e pensamentos, enquanto o tempo passa, sem pressa, sem compromissos, sem nos tirar nada que tanto temos medo de perder... o prazer de abrir uma janela e ver paisagem em vez de um amontoado de betão.

Espero que agora possam entender esse meu gosto e essa minha paixão. Já há muito que deixei de querer mudar o mundo, mas sei que se mudar o meu posso ser alguém melhor e fazer os que estão do meu lado pessoas melhores. E do que serve a vida se não for para sermos felizes? Do que serve a vida se não for para fazermos aquilo que gostamos? Do que serve a vida se não for para sermos pessoas melhores? Do que serve a vida se não for para traçarmos o nosso próprio caminho? Deixem-me ser livre como nunca fui antes de fazer as minhas escolhas e viver a vida que sempre quis, no campo!

Sem comentários:

Enviar um comentário