quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Escrita...

Desde há uns dias para cá que dou por mim, várias vezes, a pensar como a minha paixão pela escrita surgiu. A primeira vez foi quando me ofereceram um diário, ainda miúda, onde escrevia as coisas típicas da escola ou as zangas que tinha com os meus pais. Tendo em conta que não tinha ninguém com quem brincar em casa, acabava por escrever, como que falando com um amigo imaginário. Mas não era apenas um diário, era um lugar secreto onde coleccionava coisas que achava bonitas e colava lá dentro e fazia desenhos de coisas que via, em vez de as descrever. Era o meu mundo.

Lembro-me que foi então aos 12 anos que as coisas se tornaram mais sérias. Lembro-me como se fosse hoje, aquele momento em que peguei numas folhas quadriculadas que tinham sobrado de um caderno e fui sentar-me no sofá com elas e uma caneta e comecei a escrever aquilo que imaginei ser a minha primeira história. Naquela altura não pensava em livros, ou nada parecido, mas queria contar uma história e mais do que isso, vive-la dentro de mim, da minha cabeça e poder partilha-la, de forma clara e detalhada com outras pessoas. Imaginava uma menina como eu, com uma irmã mais velha com quem conversar, que vivia numa casa grande, afastada da cidade, numa espécie de quinta, junto a um rio que tinha uma pequena ponte de pedra para a outra margem. Essa menina, que ainda hoje me lembro de se chamar Joana, tinha um quarto no sótão, que era o seu refúgio, donde conseguia avistar outra casa escondida por entre os bosques da outra margem. Ela tinha ainda um fio que a mãe lhe tinha oferecido nuns anos, com um pendente azul brilhante... e a partir daqui foi difícil pousar a caneta!


Não era só uma questão de contar uma história mas sim de descrever um quadro que pintava na minha cabeça. Aquelas cores brilhantes dos rios de sol que passavam o bosque e vinham reflectir na água calma do rio, até voltarem a atravessar as árvores que serviam de abrigo a alguns pássaros, derretendo o orvalho que ainda se escondia na relva que Joana pisava com os pés descalços enquanto perseguia as borboletas e a irmã lia a um canto do jardim, sem ficar indiferente à felicidade dela... uma forma de expor aquilo que a minha imaginação vinha criando sem aviso prévio, sem controle e que, de alguma forma, tinha necessidade de libertar.

Apenas mais tarde a escrita tornou-se novamente uma forma de desabafo, de dizer ao mundo o que eu tinha para contar, sem ter ninguém para ouvir. Uma forma de imortalizar uma vivência minha, mas mais do que isso, uma forma de terapia para suportar momentos menos bons e pôr angústias de lado, sem incomodar ninguém. Mesmo assim nem tudo era mau porque ainda sou do tempo em que as cartas eram a forma mais pura de estarmos próximos de alguém que estava realmente longe. E uma página nem sempre chegava para contar tudo. A verdade é que esta paixão foi crescendo e desvanecendo ao longo dos anos, mas como um verdadeiro amor, nunca morreu e é por isso que ainda hoje escrevo com a mesma paixão e o mesmo sentimento de sempre!

"É bom escrever porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão."
Cesare Pavede

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