sexta-feira, junho 15, 2012

A imagem do real

Uma vez o meu professor de Cinema disse algo que na altura me chocou um pouco. Pensar que alguém podia ser tão frio em relação aos sentimentos... Fiquei seriamente a pensar naquela frase durante uns tempos e depois de reflectir um pouco, dei por mim a dar-lhe razão naquela forma de  pensar e ver a realidade. A frase foi, mais o menos, a seguinte: "Ninguém ama realmente algo ou alguém, ama sim a imagem que tem dessa coisa ou de uma pessoa, ama aquilo que ela representa, não aquilo que é!". A verdade é que nós, seres humanos, vivemos muito de imagens, por isso é que a publicidade nos chama a atenção e por isso é que alguém nos chama a mesma atenção, primeiramente, pela sua aparência física e só depois por aquilo que nos mostra ser. Quantas vezes olhamos para alguém realmente deslumbrante e que nos desilude no momento em que abre a boca e quantas vezes achamos alguém desinteressante e depois mudamos de ideias ao fim de uma conversa? Os nossos olhos são o passaporte para o resto dos sentidos, no que toca às imagens.

Dei por mim então a pensar na realidade daquela afirmação brutal que, rapidamente, considerei genial. Quantas vezes pensamos em alguém que fez parte da nossa vida e quando a voltamos a encontrar, passado tanto tempo, deixa de ser aquilo que estávamos à espera? Isto porque gostávamos da imagem que ficou connosco daquela pessoa e guardamos na nossa memória... e de repente essa imagem é deformada, é desconstruída para se criar uma totalmente nova, completamente diferente da anterior. É esse o poder da imagem, a desconstrução de algo que nos parece uma coisa aos nossos olhos e que, pela vista de outro alguém, torna-se totalmente diferente. É esta a magia do cinema e dos sentimentos... Momentos de desconstrução sem fim!

Ainda hoje, ao pensar nestas palavras, ainda fico a pensar se poderei ou não dar razão a esta afirmação, deixando-me a pensar horas a fio, como que se tratando de um enigma. Ás vezes penso se não me terei tornado demasiado fria por acabar por pensar assim, mas ao ouvir a frase inicial da música de Jorge Dexler - Eco, alguma coisa mudou dentro de mim. "Esto que estás oyendo ya no soy yo, es el eco, del eco, del eco de un sentimiento...". Tudo é um eco daquilo que queremos ver, daquilo que queremos sentir e da imagem que tudo isso nos pode dar, "...Sutil, quizás, tan real como una fragancia: un brevísimo lapso de estado de gracia." e nada mais do que isso! Espero ao menos ter-vos deixado a pensar, tal como eu fiquei. Deixo-vos então esta música linda para este fim de noite e que, inesperadamente, me acabou com algumas dúvidas.



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