Bastou um mero olhar para entender que as
coisas estavam diferentes. Observava a maneira como as tuas mãos me acariciavam
o cabelo, até chegar ao meu pescoço, acabando por me acariciar o rosto.
Olhavas-me nos olhos como se procurasses o resto de mim e conseguisses ver-me
verdadeiramente, como se não passassem de um mero espelho para a minha alma e a
minha verdadeira pessoa.
Apesar
destas paredes claras parecerem sombrias e de apenas a luz invasiva da rua nos
iluminar neste corredor desguarnecido de qualquer adorno, pareço conseguir
ver-te na perfeição. O brilho dos teus olhos escuros fazem-me entender que
nada mais será necessário para saber o que sentes. E a tua imagem parece única,
aqui, à minha frente, deixando-me sem saber se serás real ou um mero sonho onde
te tenho.
Os
teus dedos percorrem os meus lábios, que se abrem lentamente, obedecendo à
passagem do teu dedo polegar, cujo movimento é acompanhado pelos teus olhos,
enquanto os meus ainda observam a expressão de curiosidade existente no teu
rosto, que me parece mais puro do que sempre foi. Acabas largando o meu lábio
como se o quisesses levar contigo, enquanto a tua outra mão me aprisiona o
pescoço, como se tivesses medo que pudesse escapar.

Como
por assalto, voltas a olhar-me. Não sorris mas o brilho dos teus olhos não
me negou esse sorriso e essa confiança para avançar, em fechar lentamente os
olhos como que obedecendo a ordens que de forma desconhecida chegavam, as quais
tu também seguias. Enquanto isso, sentia a tua respiração profunda cada vez
mais próxima, enquanto a tua mão se afogava nos meus cabelos e a outra se
aproximava mais e mais das minhas ancas. Sem pensar duas vezes, acabei por
fazer o mesmo, mas com a diferença de que me sentia desfalecer ao teu toque,
sentindo-me segura por saber que me tinhas nos teus braços.
E
foi então que senti os teus lábios tocarem os meus… e eu deixava que eles me
invadissem pouco a pouco, envolvendo-se tal como nós, abrindo-se ao desejo de
ambos, em conjunto, acabando por humedecer a minha boca, que momentos antes
parecia ter ficado seca. Os nossos olhos permanecem fechados, mas parecendo que
corremos juntos um caminho conhecido, longe daquela cidade movimentada, onde
apenas nós voltávamos a existir. E agora apenas o som dos nossos corações se
fazem ouvir, abafando tudo o que nos possa envolver.
Aproximamos-nos como que com medo de fugirmos um do outro, explorando cada canto dos nossos
lábios, trocando sensações que não poderemos descrever, que nos fazem
entender o que ambos queremos. As nossas mãos acabam por se movimentar
lentamente, como que explorando um pouco do nosso corpo, tal como as nossas
bocas ofegantes se conhecem e envolvem numa lenta dança de sedução, que nos faz
sentir livres daquilo que algum dia fomos ou chegaremos a ser. Sem avisos, sem
pensamentos prévios, sem intenções premeditavas, sentimos mais e mais uma
paixão desconhecida que nos invade, aquecendo o sangue que nos corre nas veias.
Como
que lendo os sinais de cada um, abrimos lentamente os olhos, sem nos
afastar-mos, confirmando o que ambos sentimos, fechando os olhos duma forma
ainda mais rápido do que aquela que os abrimos ou do que estes beijos, que se
desenvolvem numa intimidade infinita. Agora respiramos o mesmo ar, sentimos as
mesmas batidas, sentimos o mesmo toque, sem, neste momento não sabermos mais do
que o que sentimos. Não sabemos quando isto terminará, mas lá fora o dia ainda mal acordou para nos observar neste remoto momento, onde a cidade foi
esquecida e os sentimentos gritaram ao mundo.
Ana de Quina F.
Sem comentários:
Enviar um comentário