É nestes dias de chuva que nos lembramos do tão mal amado chapéu de chuva, que é pura e simplesmente o objecto mais odiado à face da terra, quer o tragamos connosco ou não! Se o trazemos, é porque é chato andar com ele, inconveniente ou simplesmente somos possuídos pelo medo de nos esquecermos dele em qualquer canto e, ainda pior, voltar a precisar dele a meio do caminho para casa quando estamos prestes a levar com uma chuvada repentina que teima em descarregar em cima de nós, mesmo depois de nos lembrar-mos que o deixamos no autocarro ou na entrada de uma loja, momento em que iniciamos uma busca frenética ao dito objecto que nos parece salvar quando menos esperamos; se não o trazemos é porque estava um dia manhoso e não nos prevenimos para a possibilidade de caírem umas pingas só para nos chatearem e acabamos por amaldiçoar o momento em que não fomos ver o tempo antes de sair de casa e muito menos nos lembramos do chapéu porque apenas nos lembramos dele quando realmente precisamos. Mas pior do que isto tudo, é transportar este objecto de trás para a frente, durante um dia inteiro e não precisar dele... isto porque saímos de casa com a ameaça eminente de que alguma coisa nos vai cair em cima e o céu vai abrir e desabar sobre nós em forma de gotas... e no fim do dia decide aparecer um sol magnifico e resplendoroso, que nos cria um sentimento de profunda raiva pelo tão mal amado guarda-chuva.
Aqui pelo nordeste, a regra é básica: não usar guarda chuva, a não ser que caia uma escaravanada do tamanho de um diluvio bíblico. O ideal é sair de casa com um anorak (agora muito na moda porque quispo parece algo realmente feio e demasiado inestético como um anorak também o é) ou um simples casaco que tenha capuz ou gorro. Caso isto não aconteça, pode sempre optar-se por um simples chapéu impermeável ou até um simples cachecol que em vez de enrolar no pescoço, nos cobre a cabeça, porque no fundo, o importante é proteger o cabelo e nada mais. Caso esteja a cacimbar até nos podemos atrever a andar pela rua como se estivesse um magnifico dia de sol, já que a chuva miudinha nunca matou ninguém! É a chamada chuva molha parvos, mas aqui não molha ninguém. Não esqueçamos que temos sempre o refugio dos toldos das lojas de rua para nos abrigar, podemos aproveitar uma ameaça maior para ir tomar um cafezito e prolongar a estadia enquanto não pára de chover porque não temos "o abrigo" ou simplesmente enfiarmo-nos para um canto qualquer e meter conversa com quem também está à espera que a chuva passe. Podemos não ter paciência para mais nada, mas temos sempre paciência para deixar passar a chuva e ficar à abrigada ver as gotas caírem no chão e a formar possas d'água. O que realmente não há é paciência para andar constantemente a abrir e a fechar um guarda chuva, que odiamos carregar e trazer connosco.
Isto sem falar naqueles (realmente) malditos dias em que a chuva decidi vir acompanhada do seu grande amigo vento. Aí sim, mais vale a pena apanhar uma bela molha e ficar que nem um pinguim com o pelinho todo esticadinho e habilitarmo-nos a ficar três dias de cama com uma gripalhada, do que andar numa luta infinita com o guarda chuva, que teima em empurrar-nos para todos os lados, levá-lo com ele para o fim do mundo e ainda se partir nas nossas mãos, o que nos vai fazer entrar em despesas, fora a do médico. Ai sim, somos nós próprios que temos vontade de o partir no chão, espezinhá-lo, atirá-lo contra alguém e rogar pragas gigantes ao maldito inventor do guarda chuva, que provavelmente até o criou num dia de sol! E vamos lá ser sinceros, quer sejam os portáteis ou os grandalhões, não dá jeito nenhum andar com este objecto... mas ainda pior, é ir contra alguém porque não vemos o caminho por causa dele, ou ver as criancinhas com chapéus com orelhas de urso ou olhos de sapo abertos no meio da rua. Enquanto não inventam outra coisa, às vezes ele lá nos vai salvando mas quando é para dar um saltinho daqui ali, mais vale ir a correr ou encontrar outras alternativas, porque o guarda chuva, ao fim ao cabo, vai sempre levar-nos a tomar uma aspirina, nem que seja para a dor de cabeça que nos dá.
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