sábado, dezembro 14, 2013

Os mundos do Inverno

Sempre ouvi dizer que muitos escritores, para ganhar inspiração, se deslocavam para países nórdicos, cobertos de frio e neve, onde o sol não penetrava por entre aquelas nuvens escuras e prontas a desabar. E tal como a inspiração parece não vir numa praia paradisíaca, a imaginação também se parece dissipar. 

Não há nada melhor do que uma imagem campestre coberta de neve, com pequenas casas de pedra em escadinha a contrastar com o branco da neve, para se tornar no cenário ideal para a chegada de um estranho a esse local, de forma a desenrolar uma ação misteriosa... 

Não há nada como uma lareira com um lume abrasador, onde um gato dorme no seu recanto, enquanto uma rapariga lê um livro no sofá em frente ao lume, em pijama, acompanhada de uma chávena de café, enquanto espera pelo amor da sua vida que, naquele momento, foi à rua buscar mais lenha, para dar inicio a uma história de amor atribulada mas, onde o amor arde como aquele fogo... 

Não há como um dia de trovoada, de chuva intensa, onde um condutor perde o controlo de um carro, ao ver uma imagem pouco nítida na sua frente, desviando-se de forma abrupta para dar início a um policial de investigações sem fim... 

Não há nada como um dia de vento, ao pôr do sol, com o céu em tons entre o azul e o cinzento, contrastando com o verde dos relvados e as folhas em tons de fogo, que caiem e parecem queimar a própria terra, cobrindo-a de dia para dia, tornando-se na imagem ideal para um poeta, sentado debaixo de uma dessas árvores, começar a escrever um poema de amor, imaginando a sua deusa a percorrer aquelas paisagens... 

Não há nada como a chuva a bater insistentemente no vidro de uma janela, fazendo um arranjo de gotas, como um puzzle, parecendo chorar como a criança que olha para além desses vidros, depois de um momento de perda, sentindo-se à parte do mundo que o rodeia, para a mãe o vir resgatar da sua própria solidão... 

Não há nada como um nevão imparável, para reunir um grupo de amigos num quarto de uma estância perdida na montanha, contando histórias e bebendo vinho ao serão, apaixonando-se secretamente por pequenos detalhes de cada um, escondendo desejos recentemente descobertos, dando início a uma busca pela felicidade, enfrentando o mundo... 

Não há nada como as luzes de natal a cobrir uma árvore decorada por uma criança que apenas deseja um cão como prenda de natal, não imaginando que o mesmo se encontra escondido na cave, dentro de uma caixa enorme e colorida, atento ao barulho de um coro natalício que se encontra à porta para dar as boas festas aos seus futuros donos, para dar início ás suas aventuras naquela casa, naquela nova família... 

Não há nada com uma manhã de nevoeiro, para desvendar a luz de uma cabana abandonada, onde mora uma pequena feiticeira que apenas é procurada para ver no seu caldeirão o futuro dos habitantes da vila mais próxima, que a evitam, excepto uma pequena rebelde, que teima em desafiar toda a gente para conhecer a bruxa e adquirir o seu conhecimento, para fazer reviver o nosso lado criança que ainda quer acreditar na magia...

Não há nada como uma noite invernosa estrelada, com um frio cortante que parece atravessar as veias quentes do jovem que pretende enfrentar tudo e todos pelo seu amor, até mesmo atravessar aquele ar gélido, coberto por uma capa negra, confundindo-se na noite, para entregar uma carta ao seu amor, que o espera à janela de um quarto igualmente gelado, com receio de ser descoberta e levada dali para longe, dando asas a um romance digno dos clássicos...

Uma estação e mil mundos dentro dela... várias formas de olhar pela janela... uma infinidade de sentimentos!

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