sábado, janeiro 18, 2014

O meu Cisquinho!

Pois é, se há coisa que nunca pensei foi ter um gato - não podia deixar em branco esta nova companhia do meu dia a dia. Sempre cresci com cães e, por isso mesmo, aí do gato que se atrevesse a atravessar as paredes que davam para o jardim. Talvez por isso nunca tenha tido qualquer tipo de afeto por gatos, embora os acabasse por achar fofos, mas só quando eram pequenos e numa fotografia onde não podiam morder nem arranhar. Mas a verdade é que até sei de onde vem o meu desinteresse por gatos, por causa da Camila - pena um nome tão lindo ser dado a uma gata tão má. Ela era a gata da minha avó, a pior que já vi: era má, ciumenta, possessiva e vingativa.O animal mais manhoso e mais reles com quem já me cruzei. Quem não a conheceu, não iria sentir falta. E cada vez que era para ir visitar a avó, ou ela a fechava a sete chaves num canto perdido da casa, ou então a visita ia ser um terror: arranhadelas à socapa, bofadelas a cada canto, chapadas na cabeça ao passar ao lado das escadas... até ao dia em que o feitiço se virou contra o feiticeiro e, com uma patada bem dada, a Camila deixou de aparecer no meu campo de visão. Foi a primeira e única vez que fiz mal a um animal e no dia em que a gata morreu, foi um descanso para todos.

A verdade é que estar em casa sem uma companhia alimanesca é das coisas mais triste que já passei. Um vazio de todo o tamanho, um silêncio a cada canto e falta de ter alguém que não nos vai julgar racionalmente. Já há muito que andava a pensar arranjar uma companhia de quatro patas e tudo mudou numa noite, depois de uma visita a um amigo. Ao sair de sua casa, deparei-me com uma bola de pelo a deambular pela estrada que, por sorte, não atropelei. Quando encostei e parei o quarto, deparei-me com um gatinho amarelo, super fofo e bastante frágil. Não pensei duas vezes e embrulhei-o na camisola, desaparecendo num abrir e fechar de olhos. Em casa, não recusou o iogurte e o leite, as coisas que tinha à mão para um visitante inesperado daqueles. Ele deve-se ter sentido tão seguro que não se calou toda a noite até o deixar dormir num cantinho do quarto, em vez da garagem. Não tardou em ser batizado de Miska, mas ainda estavamos a criar laços quando, ao fim de uma semana, morreu. Ao que parece tinha a barriga furada por ter sido atropelado por outro carro. Chorei que se tivesse perdido o meu cão de há anos, ou até alguém bem próximo... mas simplesmente era frustante por ser a primeira vez que tinha um gato, a primeira vez que tinha resgatado um animal da rua e a primeira vez que deixava morrer um companheiro de quatro patas num curto espaço de tempo.



Quem me conhece sabe que adoro animais, por isso mesmo, não descansei até ter outro gato. Já não queria um cão, queria sim um segunda oportunidade para ter um companheiro de guerra com bigodes gigantes, umas patinhas esponjosas e uma língua áspera, que fazia barulhos esquisitos quando estava contente. Foi então que, passado um mês, apareceu o Cisco, através de um anuncio na internet. E no dia em que chegou, estava ansiosa para abrir a caixa com a minha encomenda peluda. E quando aqueles olhinhos - verdes na altura - olharam para os meus, foi amor à primeira vista. Tinha medo de também o perder tão depressa, talvez por isso tenha sido ainda mais mimado. Apenas não queria que se tornasse numa Camila, maldosa e arrogante. Aos poucos, foi-se tornando num curioso, sociável e brincalhão. Embora, viesse quem viesse, a pessoa a quem ele recorria a pedir mimos, comida ou simplesmente atenção, era sempre eu.

Sendo a primeira vez que era responsável por um animal, fora o papel de mão de dar de comer, beber, limpar a areia, etc... o que mais me custou foi ter de ralhar. Inicialmente pensei que ao ralhar o ia levar a ter uma atitude agressiva como a maldita Camila mas aos poucos fui vendo que era precisamente o contrário. Era preciso ralhar para educar, para lhe mostrar aquilo que podia e o que não podia fazer, as regras do meu espaço em contrapartida com o dele. E hoje basta uma palavra para saber o que está certo e o que está errado. A teimosia de ambos é desafiadora, ao ponto deste reguila me desafiar quando não está ele contente com algo. É aí que começa a caça do rato e do gato. Mas o melhor de tudo é ver como o Cisco acorda sempre como se tudo fosse uma novidade, nem que seja um saco novo para se enfiar lá dentro ou uma nova caixa de cartão para fazer de nova casa, num canto perdido. Até a sua atitude fascista podia ser alvo de estudo, a forma como quer impôr a sua vontade, sem cedências e com insistência. E por mais opinião que os outros tenham, apenas a dele importa, por isso, se tiver de se escapulir pela porta, vai... se tiver que correr em cima da cama, sem a deixar fazer em condições, corre... se tiver de se deitar no sofá e não deixar ninguém se sentar, deita-se... e se tiver de pedir mimos, da forma mais insistente e chata de todas, pede!

A verdade é só uma, quer seja cão ou gato, não há companhia melhor do que a de um animal que não julga as nossas ações.... que mesmo que estejamos de mau humor têm sempre um carinho para nos dar... mesmo que sejamos duros com eles, vão sempre saber agradecer o amor que lhes damos... mesmo que haja dias em que nos apeteça desistir de tudo e de todos que nos rodeiam, eles vão-nos dar um único motivo para ficar!

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