quarta-feira, maio 28, 2014

Confissões de um velho (ainda) apaixonado!

No que toca ao amor e à paixão, o assunto é delicado. É preciso ter cuidado com as palavras, sentir bem o chão que se pisa... ou simplesmente deixar-se levar pelos sentimentos. Se há arma poderosa no mundo é o amor e nada é mais perigoso do que um homem apaixonado. Muitas vezes confundimos o primeiro amor com a primeira namorada mas mais tarde entendemos que o primeiro amor é sempre uma coisa diferente, que vem sem aviso, sem data ou hora marcada, que nos arrebate de uma maneira tão forte e nos faz sentir tão pequenos. E de repente é ela que se torna o nosso mundo, é o seu olhar que nos acalma, a sua voz que nos guia, o seu sorriso que nos faz lutar e ter cada vez mais sede de lutar, só para a fazer voltar a sorrir. Este sim é o verdadeiro amor, que apenas um homem apaixonado poderá entender. É aquele amor de quem muitas vezes abdicamos, muitas vezes por motivos que nem mesmo nós conhecemos, mas que guardamos no nosso coração por tempo indefinido. Um amor assim não morre, apenas adormece mas é o mesmo que nos alimenta, mesmo depois de vir outro amor.

É possível amar várias pessoas ao mesmo tempo, por isso mesmo há amores diferente. Amei os meus filhos, amei a minha mulher, amei os meus pais, amei os meus animais... mas amei mais ainda alguém que me fez lutar, que me deu vida, que me fez sentir o sangue correr nas veias, quente, fervendo, que me deu um sorriso todos os dias ao acordar... e que perdi. Foi quando percebi que nem sempre "deixar ir" é sinónimo de "não querer saber", mas sim o contrário. Ás vezes é preciso deixar livre aquilo que nos pertence e aquilo que amamos. No fundo, o que é nosso sempre volta mas não foi a distância que me fez esquecer o meu grande amor... pelo contrário. Amei-a ainda mais todos os dias e embora não tenha lutado por ela, foi o seu amor que me fez lutar por mim. Ela era a única que acreditava em mim, que me tornou alguém melhor, que me fez ver o mundo com olhos de Homem e não apenas de menino fanfarrão. Foi o seu amor que ao longo dos tempos me tornou num marido melhor, num pai mais dedicado e compreensivo, mesmo sem ela do meu lado. Quem me dera que o seu amor por mim também a tenha feito feliz depois de partir.

Dizem que os apaixonados se tornam pessoas sem juízo, que não medem riscos. mas ao olhar em volta, sinto falta de um amor assim. Já ninguém se apaixona e fica "bêbado" de amor. Já não existe uma inocência no olhar ou a ingenuidade de uma criança nas suas ações. Cada vez mais as pessoas se apaixonam porque está na hora de casar e ter filhos, ou porque há alguém rico que nos pode dar um futuro, ou simplesmente para não ficarem sozinhos. E o amor? Onde fica? Sinto saudades de ver um amor como o meu, daqueles em que não somos apenas namorados, somos confidentes, companheiros, completamos ideias, brincamos com assuntos sérios e sorrimos para os obstáculos porque sabemos que, no fim, tudo se resumo a nós dois. Somos os eternos melhores amigos, sempre. Sinto saudades do amor absurdo, daqueles que nos faz fazer loucuras, que nos liberta e nos mostra quem realmente somos, sem exigências ou expectativas... a única coisa que se pode esperar de quem se ama, é ser amado da mesma forma. É verdade que ninguém vive de um amor e uma cabana, mas será possível viver numa bela cabana, com um bom futuro, sem amor? No meu caso, preferia que me matassem a não me deixarem viver o que vivi, sentir o que senti.

Quando ela partiu, disseram-me algo que nunca esqueci: "Um amor impossível, é o mais verdadeiro". Lembro-me que sorri e guardei esta frase juntamente com as lembranças que tinha dela. Nunca vi minha mulher sorrir da mesma forma que ela, nunca tivemos uma grande brincadeira ou conversa, embora sempre nos tenhamos respeitado e eu sabia que ela era feliz tal como eu também fui com ela... mas se tivesse lutado, tudo teria sido diferente. Hoje é do que me arrependo, não lutar por quem realmente nos dá o melhor de si e nos faz sentir o melhor de nós e nos desafia todos os dias a sermos ainda melhores. Mas não esqueci e todos os momentos maus são lições, por isso, hoje ensino a todos a fazer o que não fiz: lutar. Nunca é tarde para um divórcio, se não há amor; nunca é tarde para terminar um namoro, se não dá certo; nunca é tarde para ir atrás de alguém que é um sonho mas foi a nossa realidade... e se foi real uma vez, pode ser uma segunda. E por isso eu espero, ainda espero pela minha segunda oportunidade de voltar a amar quem nunca deixei de amar, quem me ensinou a ser quem sou, quem me fez lutar por mim. Ao menos ainda me resta a esperança de esperar por ela.

Por favor, não desistam do amor. Dá trabalho? Dá muito. Sofre-se? Demais. Transforma-nos? Nem podemos adivinhar o quanto... mas uma vida sem amor, será uma vida perdida. Um amor verdadeiro nunca se esquece, nem sequer se tenta, porque nem se quer. É um amor tão forte, tão grande, que nunca morre, nunca enfraquece. É o tipico amor por que se luta uma vida inteira, que desafia todas as leis, que não quer saber de consequências. Hoje tenho pena de quem não viveu um amor assim, de quem se entrega à conveniência ou às exigências da vida, sem antes ser livre de si mesmo. Serei um eterno apaixonado por uma mulher que não me pertence, mas ao menos vivi um amor que foi verdadeiro e enquanto acreditar nele, vai sempre existir dentro de mim e iluminar o meu caminho de novo até ela.


Ana de Quina F.

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