segunda-feira, junho 09, 2014

"Vim te salvar!"

Meti o capuz na cabeça e protegi-me do mundo. A noite estava estrelada e o vento tinha acalmado. Sai sem saber para onde ir. Pouco importava. Caminhei pela noite como um ser despido de medos e de vontades. Era apenas eu e o mundo. Naquele instante amava o desconhecido, amava o perigo e o inesperado. Caminhei sem rumo sem querer saber do tempo. Então encontrei um lugar só meu. Sentei e encostei-me ao muro. Olhei para cima e encontrei as estrelas que me acompanhavam nesta viagem noturna. Imaginava uma vida para lá daquele universo, certamente mais aconchegante.

Estava tão absorvida naqueles pequenos mundos que nem me apercebera do som dos teus passos na minha direção. Como sabias que estava ali? Como sabias? Rapidamente me estendes-te a mão e me abraças-te. Senti-me desfazer em pequenas partículas, tão minúsculas como aqueles pontinhos que brilhavam por cima de nós. "Vim te salvar!", sussuraste-me ao ouvido e, aos poucos, senti os meus olhos cobrirem-se de lágrimas. Tinha vindo procurar a solidão, tentar me encontrar no silêncio da noite, sem perceber que há muito caminhavas do meu lado, lendo cada pensamento, interpretando cada gesto e invadindo a minha alma pelo meu olhar. Tiraste-me o capuz da cabeça, obrigando-me a ouvir o bater do teu coração e agora apenas bastava a tua presença para me sentir protegida de todos os sentimentos negativos que me tinham consumido.

Os teus dedos limpavam as minhas lágrimas, enquanto o teu olhar sorria para mim. "Está tudo bem!", dizias não apenas com a tua boca mas com todo o teu corpo e eu acreditava. Acreditava porque agora te tinha diante de mim e porque confiava em ti. Tudo era inesperado, tal como aquela caminhada para fugir de uma solidão inesperada como a tua aparição para um salvamento inesperado... tal como a força que nos atraia um para o outro, juntando-nos num beijo apaixonado e meigo, onde o amor arrebatava a solidão, onde a felicidade se infiltrava em cada canto da minha tristeza, onde a noite dava lugar ao dia. Olhei-te nos olhos para ter a certeza que não era apenas um sonho que a manhã me havia roubado. "Vem comigo!", pediste sem exigir nada mais em troca, guiando-me pela tua mão e levando-me dalí, por novos caminhos. Ainda me perguntava como sabias que estava ali mas segui-te apenas ouvindo o meu coração que naquele momento descansava em paz na certeza de que apenas tinha procurado o caminho até ti.



Ana de Quina F.

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